segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Será?


Será que um dia você vai saber o que quer da vida sem ter alguém pra te apontar o caminho? Um dia, me diga, rapaz, um dia você vai acordar e decidir que o melhor, a partir de agora, é seguir sua intuição e dar adeus a todos os planos certinhos que fez e que não te levam mais a lugar nenhum?

Um dia você vai optar, por conta própria, por abandonar as regras às quais tanto se apega para não se perder no caminho, e colocar os pés na direção do que pode ser o certo, ou pelo menos o melhor, pra você?

Vai assumir os riscos de uma vida sem certezas, de muitas perguntas e quase nenhuma resposta exata? E poderá lidar com isso?

Vai se deixar abrir um pouco, para pelo menos tentar responder novos questionamentos sobre si mesmo? Ou continuará se apoiando em crenças absolutas, ideais outrora definidos e já borrados, cenários que um dia vão se desmanchar (porque são gigantescas miragens) assim que você chegar perto?

Um dia, querido, você vai olhar pro lado, nem que seja por curiosidade, ou será que vai continuar andando em linha reta sem pensar no que há à sua volta? Vai perceber que a estrada a gente faz ao andar, que ela nunca estará pronta?

Eu sei que parece ser mais fácil viver com pretensas certezas. A gente cria (ou acha que cria) um jeito de pensar, de viver, então compara a nossa vida com a dos outros, mede aqui e ali e busca o carimbo da aceitação, costurando o jeito de uma pessoa e de outra e um bom pensamento com outro mais ou menos coerente até achar que já tem o suficiente pra dizer que aquilo ali, aquele tecido meio torto, com furos escondidos, é o seu jeito de viver e ele é bom e você não precisa de novos modos de costurar porque ele já está definido e chega disso.

Mas, querido, a gente nunca termina de criar essa coisa maluca e viscosa com o que nos vestimos pra enfrentar o mundo todos os dias. E por isso a gente precisa continuar buscando novas formas - de preferência mais interessantes e menos dolorosas do que encontramos até agora - de viver. E te digo, não é fechando os olhos pro que existe em volta que eu, você ou qualquer um vai poder ser feliz de verdade.

O que é verdade?, você me pergunta. Eu não sei, não. Mas pra descobrir você vai ter de tirar as duas mãos que tapam o seu rosto, olhar pro abismo debaixo dos seus pés (sim, ele sempre esteve lá!) e tentar inventar um jeito só seu de cruzar todo esse vazio até o outro lado. Pode ser com piadas de humor negro, pode ser cantando as músicas daquele jeito errado que gosta de fazer, pode ser sozinho, pode ser acompanhado, pode ser segurando uma espada Jedi em cima de um monociclo enquanto a plateia te joga tomates. Só não pode ser se fingindo de morto pra esperar o mundo acabar.

Bem. Pode ser que você um dia resolva fazer isso tudo, não é? E pode ser que nada dê certo, concorda? Você pode cair, se machucar, se quebrar pra valer. Pode se arrepender de cada maldita escolha feita na hora da emoção. Pode maldizer o marco zero, aquele momento em que decidiu dar um passo incerto. Não há garantias, eu sei, você sabe.

Mas há portas a serem abertas, e elas podem dar em cômodos escuros ou paisagens maravilhosas. E eu, se fosse você, não abriria mão do mágico mundo das possibilidades.

Mas veja, eu não sou você. Sou só a autora desse texto. E apesar de saber escrever uma boa história, sei que eu não pude/não posso/não poderei mudar a sua. Afinal, ninguém muda ninguém, cada um tem de fazer as próprias escolhas com a coragem que tem no coração. Mas eu torço, de verdade, pra que você descubra que é possível mesmo e consiga ser (mais) feliz.


quinta-feira, 18 de agosto de 2016