terça-feira, 28 de outubro de 2014

Senhas e padrões

Tem vezes em que me dou conta que somos muito mais parecidos com os outros, com qualquer um na rua, no trabalho ou até mesmo com quem está do outro lado do mundo, do que é confortável imaginar (em geral quando me pego reclamando de outras pessoas e me dou conta que o que me incomoda nelas é algo que tenho em mim mas não consigo aceitar; reconhecer os próprios defeitos no outro é cruel).

E digo que é confortável imaginar que somos pessoas únicas porque há algo de bacana em se considerar diferente dos outros, em algum aspecto qualquer, mesmo que apenas para ter um pouco de espaço para exercer a própria individualidade. Mas, sim, somos parecidos (e que ótimo, afinal, somos humanos).

Veja a forma que escolhemos para criar senhas, por exemplo. A maioria das pessoas seguem padrões convencionais: sequências numéricas, datas importantes, nomes de filmes ou celebridades, nome do cachorro, números de documentos pessoais. Um exemplo: a polícia dos Estados Unidos localizou, pela primeira vez, uma pessoa acidentada tendo como fonte de informação os dados do GPS do Iphone da vítima. Para fazer isso, bastou acessar o Ipad da moça e usar o recurso "Find My Iphone". Até aí, tudo normal. Só que, para acessar o Ipad da tal moça, o detetive teve de descobrir a senha de desbloqueio do dispositivo. E não foi nada difícil. Veja:




Um palpite baseado em uma série de números comuns que as pessoas usam para criar senhas e... pronto.

Em um conto chamado Silver Tape, a escritora Mara Coradello diz:
"O previsível seria nunca mais ligar. Nem eu e muito menos ele. Para aguentar a privação vasculho coisas e pessoas o tempo inteiro. Descubro o login dele e a senha. Incrivelmente as mesmas palavras. Ninguém nunca acha que o outro vai querer saber assim de nós de forma desleal e surrupiar as senhas? Eu acho que sim. Eu vou sempre tentar descobrir o que você não fala. Às vezes sonho. Em outras sou antiética. Não que meus sonhos também não sejam antiéticos".

Previsibilidade humana, previsibilidade humana, previsibilidade humana. Poderia ser um mantra ou uma frase escrita no quadro pelo Bart na abertura de Simpsons ou uma sequência para escrever no caderno de caligrafia na escola.

Será que é assim na vida, em geral, também? A gente segue os padrões mais óbvios, facilmente reconhecíveis, sem pensar se é de fato seguro/inteligente/o melhor que pode ser feito? E estamos todos em risco?

E, será que, apenas por preguiça mental vale a pena manter os mesmos padrões?

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Limpando os carmas e começando de novo


Muita coisa aconteceu desde que comecei meu último blog. O ano era 2010 e o mês, dezembro. Eu praticamente nem tinha completado um ano morando em Curitiba, cidade que me prometia tanto e tudo e... oh.

Trabalho, namoro, amigos, ruas, cachorros, parentes, músicas, demissões, expectativas, mais quilos, fins de namoros, menos quilos, mais dinheiro, casa nova, menos dinheiro, terapia, academia, pós-graduação, família perto e depois longe, um bebê na família e depois a perda que doeu (e ainda dói) pacas. Mais ou menos isso aconteceu não nessa exata sequência. E nesse tempo, que se formos pensar nem é tanto assim, eu fui ficando mais ou menos feliz, mas com certeza um pouco mais cínica.

Era hora de recomeçar. Com um pouco mais de magia e cor nas palavras - que às vezes nem querem sair da garganta - e é por isso mesmo que elas têm (o quanto antes) de ser gritadas. GRITADAS, SIM, GRITADAAAS (ok, deixemos pra outra hora).

Os textos do último blog se alternavam entre a raiva da falta de significado da vida e a tristeza por não conseguir sentir o gosto dos dias como um dia, achava então, já havia conseguido.

Fiquei chata, depois legal, depois só uma funcionariazinha-padrão que anota todas as tarefas em post its.

Bem, foram quatro anos e eu não tenho condição de julgar se foram bons ou ruins. Não sei o que vai me acontecer nos próximos quatro ou dez, podem ser incríveis ou podem ser de dar dó. Mas, estes quatros já passaram. Então eu deixei de besteira, de remoer tudo só na minha cabeça e de achar que nada nunca vai ser melhor do que o melhor que já inventaram e já escreveram e... resolvi que ia começar de novo - que é uma das coisas que mais faço bem na vida.

Eu não posso prometer que não serei chata. Exagerada. Convenientemente mulherzinha. Nem tão verdadeira quanto gostaria, isso também é verdade. Não posso dizer que é tudo relevante. Mentira, posso sim: é tudo verdade e é tudo relevante.

E é meu.

Rá.


Foto: KCPhotographyy