domingo, 14 de fevereiro de 2021

O que é a escrita

 


Escrever pode ser aquilo que falta pra engolir aquela palavra que não desceu direito. Um gole de água quando a sede está muito forte e o próximo copo fresco parece estar tão distante, a casa a sete quadras e estamos na pandemia - não vá comprar água por aí e dar bobeira, não vá morrer pelas esquinas por não aguentar sete quadras. 

Escrever pode ser a transição suave entre um pensamento leve e uma visão mais dura sobre a realidade que bate à porta. Pode, também, ser um pequeno intervalo entre tomar um café, respirar um ar semi-fresco do quinto andar de uma capital e ir para o próximo tópico da lista de tarefas do trabalho. 

Pode ser um soluço que aparece depois de engolir rápido demais o último gole de coca-cola. Atravessar, engolir, passar por. Escrever é um impulso daqueles necessários pra seguir em frente, não travar na lombada, não bater na marquise, não cair do meio-fio.

A escrita é um pedaço de tecido que dá pra colocar no rasgo de uma blusa e ela nem vai precisar ser aposentada, apesar de não poder ser usada em grandes eventos sociais. 

Escrever é pegar um pouquinho do que sobra ali na geladeira e montar um sanduíche que, surpreendentemente, ficou bem gostoso e talvez você nunca consiga repetir esse feito pra outra pessoa e não vai conseguir transmitir a alegria de ter feito algo simples, bom e funcional pra si mesma. 

Escrever é fluido, duro, fresco, bom, útil e tem gosto de amor próprio.  

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