domingo, 5 de fevereiro de 2017

O tempo, o barquinho e a esperança de


Eu nunca me preocupei com a passagem do tempo e a idade e as coisas que supostamente devemos conquistar em determinados períodos da vida para sermos pretensamente bem sucedidos ou felizes.

Eu achava, basicamente, que bastaria viver e essas coisas chegariam ou seriam alcançadas de forma natural, de acordo com a convergência dos fatores e as pessoas que encontramos pelo caminho.

Já não estou mais tão certa disso.

Talvez a vida que importa só passe a ser vivida depois de encontrarmos algum tipo de foco no qual a gente passa a mirar para conquistar, um a um, todos os objetivos que criamos na nossa mente. Mas pra isso é preciso ter algum tipo de objetivo.

Objetivamente falando, só tem a mínima possibilidade de alcançar um objetivo quem sabe defini-lo (ou isso é só uma grande bobagem).

E apesar de parecer uma pessoa bem objetiva, sofro de subjetividade progressiva com tendências a divagações eternas e inconclusões paralisantes totalmente ridículas.

Por outro lado (e aí vem o oposto de tudo o que eu disse), também passo a me questionar sobre as coisas que forcei a barra para que acontecessem. As pessoas que eu não necessariamente encontraria ou me relacionaria se isso não dependesse basicamente do meu esforço, dos meus planos e da minha insistência com o universo. Passo a pensar se não é mais inteligente ficar parada, vendo o mundo girar, ao invés de ficar calculando rotas e traçando planos para realizar qualquer coisa.

Será que eu encontraria essas mesmas pessoas? Será que as conversas seriam as mesmas? Será que se eu parasse, já aos 16 anos de tentar ajeitar a vida dos outros ou me infiltrar nessas vidinhas tolas de alguma forma, eu seria hoje outra?

Ando um pouco cansada de ter de agir o tempo todo. Se a vida fosse o mar e meu presente fosse um barquinho, eu estaria nesse momento só deixando as ondas me levarem, cansada de usar os remos. Deitada, olhando pro céu enquanto ele muda do azul claro para o azul escuro, ganhando pontinhos brilhantes que depois desaparecem.

Ok. É só um período ou talvez a percepção de que não preciso me esforçar tanto o tempo todo (ainda que muitas vezes apenas mentalmente) para quase nada (exceto para o trabalho que me gera o próprio sustento).

Talvez eu esteja falando de pessoas. Talvez eu esteja falando da complexidade de se relacionar com elas. De criar uma história com alguém. De viver um romance.

Fiquei cansada de: projetar, explicar, esperar, definir, planejar. Ir em direção a. Oferecer explicações para. Tentar juntar os pedaços de. Desenhar um quadro com cores que não emocionam porque não basta a minha própria aquarela.

Fiquei cansada.

Mas ao mesmo tempo, tenho lá no fundo uma esperançazinha de: me deparar com, descobrir que, me surpreender sobre, imaginar que.

Aquela esperançazinha maldita de, um dia qualquer, recuperar a vontade de me levantar, olhar para as ondas e pegar os remos. E mirar em direção a. Para encontrar com. E experimentar se. Apesar de.

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